Os órgãos oficiais de educação patriótica e propaganda do MPLA não se cansaram, durante esta semana, de publicitar a notícia da morte, devido à fome, de 164 pessoas no Bié. O grande objectivo é humilhar o governo anterior do José Eduardo dos Santos, tentando promover o do ex-Ministro da Defesa da Corrupção, João Lourenço. As estatísticas ainda não revelaram os números desse tipo de mortes noutras províncias.
Por Domingos Kambunji
Num país democrático e civilizado essa fatalidade seria motivo suficiente para o pedido de demissão do presidente do município e do governador provincial. Todos nós sabemos que, quatro décadas após o MPLA ter usurpado o poder, Angola ainda não descentralizou o poder, ainda não tem autarquias.
Por isso não se pode demitir ou exonerar um presidente de município que não existe. O governador provincial, desempenhando o papel do moço de recados do poder central, não se demitiu porque seria difícil encontrar um militante do MPLA pior para desempenhar essas funções.
A situação mais macabra nessa ocorrência está no facto de a “educação patriótica e propaganda” tentar disfarçar essa fatalidade substituindo a palavra fome pela palavra subnutrição. Na linguagem do MPLA quem não come está subnutrido, não esfomeado!
Esta palhaçada partidária e governamental só demonstra que o 27 de Maio de 1977 é muito mais prolongado do que se poderia imaginar: as pessoas agora não morrem fuziladas, morrem “subnutridas” (esfomeadas)…
Uma coisa é certa: nenhuma dessas pessoas que morreram de fome no Bié e as que morrem pelo mesmo motivo noutras províncias era dirigente do Comité Central do MPLA, General do MPLA, família de José Eduardo dos Santos ou de João Lourenço, Governador Provincial, Deputado ou Ministro do MPLA ou fazia parte de qualquer outro grupo de ladrões do MPLA.
O MPLA andou por aí a vender banha da cobra na tentativa de impor o dia 23 de Março, dia da batalha do “Coito-Carnaval”, para celebrar a libertação da África Austral e arredores. Esse é o dia em que mudou de ideologia, em que adoptou uma ideologia que combatia, o dia do funeral do partido único, do marxismo-leninismo.
Foi para defender uma ideologia de partido único que o MPLA iniciou a guerra civil e fuzilou dezenas de milhar de angolanos no 27 de Maio de 1977. O 23 de Março permitiu a implantação do capitalismo selvagem, da roubalheira, uma prática que, eufemisticamente designa por “acumulação primária de riqueza”.
Afinal de contas que libertação é essa num país que possui 20 milhões de pobres e tem cidadãos nacionais a morrerem com fome?
Não será de espantar se num dos próximos dias o galináceo infantil, também conhecido por deputado Doutor Atum ou João Pinto, venha afirmar que a culpa da guerra e dos refugiados na Síria e dos refugiados Rohingyas, da Birmânia, é da UNITA e do Savimbi, porque não celebram o 23 de Março como feriado internacional e não reconheceram o Agostinho Neto como o primeiro presidente do MPLA ou o José Eduardo dos Santos como o Arquitecto da Paz (podre).
Do MPLA é de esperar tudo, até nomear para Ministro da Comunicação Social o João Melo, um bajulador do Zédu que se converteu em adulador do João Lourenço.
Agora a prioridade é desacreditar e acusar os governos do Zédu, afirmando que “a situação é pior do que se imaginava”. No próximo episódio desta tragicomédia, o próximo governo do MPLA, talvez presidido pelo Kangamba, irá utilizar o mesmo argumento para desacreditar e culpabilizar a presidência do João Lourenço, que agora começa a dar os primeiros passos, em falso.